O que foi
O Império de Gana, também conhecido como Wagadou, foi um proeminente estado na África Ocidental, florescendo aproximadamente do século VI ao XIII. Sua história é formada por diversas evidências arqueológicas, tradições orais e relatos de historiadores árabes medievais.
Origens, fundador e ascensão (século VI-IX)
As raízes do Império de Gana remontam ao povo Soninke, um grupo de língua mande na África Ocidental. Seu início é envolto em tradições orais e contos semi-míticos. De acordo com essas tradições, o império foi fundado pela figura lendária Dinga Cisse. O Gana inicial era mais uma federação de clãs do que um estado centralizado, e seu poder baseava-se no controle das rotas comerciais transaarianas.
A região era rica em ouro e servia como um nó crítico na rede comercial transaariana, ligando as minas de ouro ao sul do Saara com os mercados do Mediterrâneo e do Oriente Médio. Esse comércio envolvia a troca de ouro, abundante ao sul, por sal, escasso na região, mas essencial para a preservação de alimentos e manutenção da saúde humana.
Mapa da África mostrando a localização do Império de Gana |
Era de Ouro (século IX-XI)
O Império de Gana atingiu seu auge entre os séculos IX e XI. Foi nesse período que o império se tornou sinônimo de ouro, ganhando o título de "Terra do Ouro" pelos estrangeiros. Sua capital, Koumbi Saleh, tornou-se um centro comercial e intelectual próspero, atraindo comerciantes e estudiosos de todo o mundo islâmico.
Os governantes do Império de Gana, mantendo práticas religiosas tradicionais, promoveram um ambiente de tolerância religiosa. Este período viu a introdução do Islã através de contatos comerciais, que começaram a exercer influência cultural e política significativa. Notavelmente, o império não adotou o islamismo como religião de estado, permitindo que crenças islâmicas e tradicionais africanas coexistissem.
Império de Gana: prosperidade e desenvolvimento durante a Era do Ouro. |
Causas do declínio e Queda (século XII-XIII):
• O declínio do Império de Gana começou no final do século XI, precipitado por uma série de pressões internas e externas. O movimento Almorávida, um grupo islâmico reformista do Saara, lançou campanhas contra Gana no final do século XI, perturbando as rotas comerciais e enfraquecendo a base econômica do império. Embora o impacto direto dessas invasões seja debatido, eles indubitavelmente contribuíram para o declínio do império.
• Internamente, o império enfrentou desafios devido à extensão excessiva e às complexidades de gerenciar um território diverso e vasto. Além disso, a diminuição de recursos naturais, particularmente nas minas de ouro, e as mudanças ambientais na região do Sahel minaram ainda mais as estruturas econômicas do império.
• No século XIII, o Império de Gana perdeu o controle de suas rotas comerciais e territórios para poderes emergentes, como o Reino de Sosso e mais tarde o Império do Mali. O Império do Mali, em particular, sob a liderança de Sundiata Keita, absorveu e eclipsou os remanescentes de Gana, marcando o fim do outrora glorioso império.
Legado
O legado do Império de Gana é significativo na história da África Ocidental. Ele lançou as bases para impérios subsequentes na região, particularmente em termos de redes comerciais, trocas culturais e estratégias de formação de estado. A história do império também fornece uma janela para a sociedade da África Ocidental primitiva, ilustrando as interações complexas entre estruturas políticas africanas nativas e o mundo islâmico.
Publicado em 03/01/2024
Por Jefferson E. M. Ramos (historiador formado pela USP em 1994).
Bibliografia de referência:
MAZRUI, Ali A.; WONDJI, Christophe (Orgs.). "História Geral da África – Vol. III: África do século VII ao XI". Tradução de Maria Beatriz de Medina. Brasília: UNESCO, 2010.