Mitologia Persa

Os mitos da Pérsia Antiga são repletos de simbolismos e valores deste povo.


Mitra: divindade do juramento na mitologia persa.
Mitra: divindade do juramento na mitologia persa.


Introdução

A mitologia persa, parte integrante da cultura iraniana, tem suas raízes nos antigos mitos indo-iranianos, compartilhando uma ancestralidade comum com a mitologia védica. Evoluiu significativamente quando os persas adotaram o zoroastrismo, fundado pelo profeta Zoroastro (ou Zarathustra), como seu principal sistema religioso e cultural.



Como surgiu a Mitologia Persa


A evolução da mitologia persa pode ser rastreada até dois períodos significativos: a era pré-zoroastrista e a era zoroastrista. No período pré-zoroastrista, a mitologia persa foi fortemente influenciada pelos mitos indo-iranianos, concentrando-se em um panteão de deuses ligados a elementos naturais e corpos celestes. O Rigveda, um texto sagrado indo-ariano, compartilha muitas semelhanças com esses primeiros mitos.


Com o advento do zoroastrismo, a mitologia persa passou por uma transformação profunda. O zoroastrismo, que surgiu por volta do 2º milênio a.C., introduziu elementos monoteístas, enfatizando uma luta cósmica entre as forças do bem, lideradas por Aúra-Masda, e do mal, representadas por Angra Mainyu (Arimã). Essa mudança do politeísmo para um sistema de crenças dualista redefiniu a estrutura dos mitos persas, incorporando temas de moralidade, ética e escatologia (relacionados ao fim do mundo e vida após a morte).



Principais características e temas dos mitos persas:


O tema central na mitologia persa é a batalha dualista entre o bem e o mal. Aúra-Masda, o senhor sábio, e Angra Mainyu, o espírito destrutivo, representam essa luta eterna. Esse dualismo permeia vários aspectos da mitologia persa, simbolizando as escolhas morais e éticas que os indivíduos devem fazer.


Outra característica chave é o conceito de "asha" (verdade, ordem) versus "druj" (falsidade, caos). Muitos mitos persas giram em torno de heróis e seres míticos lutando para defender "asha".


Temas recorrentes também incluem a jornada da alma após a morte, ressurreição e o julgamento final. Essas crenças são retratadas em vários textos, incluindo o Avesta, a escritura sagrada do zoroastrismo, que descreve o mito da criação, princípios morais e visões escatológicas da fé zoroastrista.

 

Pintura mostrando uma criatura alada grande e colorida

Simurgue: criatura alada da mitologia persa.



Principais seres na Mitologia Persa



A mitologia persa é rica em vários seres, que vão de deuses a criaturas míticas.


Deuses: Aúra-Masda está no ápice, sendo o criador e defensor de "asha". Outras divindades significativas incluem Mitra, o deus do pacto e do juramento; Anahita, a divindade das águas; Zurvã, o deus do tempo infinito e Vayu, o deus do vento.


Demônios e Espíritos Malignos: Angra Mainyu (Arimã), o antagonista, lidera uma série de entidades demoníacas como Aeshma, o espírito da ira, e Druj, que encarna o engano e a falsidade.


Criaturas Míticas: mitos persas estão cheios de bestas fantásticas. O Simurgue, também conhecido como Anga, era uma criatura gigantesca semelhante a um pássaro, simboliza sabedoria e purificação. Outras criaturas incluem o feroz dragão Azi Dahaka e o pássaro Huma, que nunca pousa e é considerado um símbolo de boa sorte.


Heróis: figuras como Rostam, do épico Shahnameh, são celebradas por seu valor e retidão moral. Esses heróis frequentemente enfrentam desafios sobrenaturais, refletindo a luta entre o bem e o mal.

 

parade de um templo persa com o relevo de um deus persa com asas

Aúra-Masda: deus do bem na mitologia persa




O Mito da Criação do Mundo Persa


O mito da criação zoroastrista é um aspecto fundamental da mitologia persa. De acordo com o Avesta, no início, havia apenas Aúra-Masda, existindo em um estado de luz pura e bondade. Para combater a ameaça do espírito maligno Angra Mainyu, Aúra-Masda criou o mundo material como um campo de batalha para combater o mal.


Essa luta cósmica se manifestou na criação de vários elementos e seres. Aúra-Masda criou primeiro o céu, seguido pela água, terra e vegetação. Ele então criou o touro primordial, Gavaevodata, e o primeiro humano, Gayomartan. Essas criações eram inicialmente puras e incorruptas, mas Angra Mainyu, invejoso das criações de Aúra-Masda, as atacou, introduzindo morte e caos no mundo.


Da morte de Gayomartan surgiu a raça humana, e do corpo abatido do touro vieram animais e plantas. Assim, o mundo se tornou um campo de conflito entre as forças do bem, lideradas por Aúra-Masda e suas entidades divinas (Amesha Spentas), e as forças do mal, lideradas por Angra Mainyu e suas legiões demoníacas.


A culminação desse mito é a profecia de um salvador futuro, Saoshyant, que ressuscitará os mortos e estabelecerá um estado permanente de bondade, encerrando assim o duelo cósmico entre o bem e o mal. Esta visão escatológica retrata um julgamento final, onde as almas são julgadas com base em suas ações em vida.


 


 


Publicado em 25/01/2024

Por Jefferson Evandro M. Ramos (historiador e professor de História)




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Bibliografia Indicada

 

Fonte do artigo:

 

- CHAPET, Jean. História da Pérsia. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. 2⁠ª ed. São Paulo: Editora Unesp, 2019.


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