O que é Xintoísmo
Xintoísmo é uma religião animista e antiga do Japão. O termo 'Xinto' significa "o caminho dos deuses" em japonês. Diferentemente de muitas religiões, o Xintoísmo não tem um fundador, nem possui escrituras sagradas. Em vez disso, é uma complexa mescla de crenças populares antigas, rituais e costumes que têm sido parte integrante da cultura japonesa por séculos.
Central para o Xintoísmo é a adoração dos 'kami', termo que pode ser traduzido como deuses ou espíritos. Acredita-se que os kami habitam fenômenos naturais como montanhas, rios, árvores e até certos animais. Esse respeito pela natureza sustenta grande parte da prática religiosa e do pensamento xintoísta.
Como o Xintoísmo surgiu: um pouco de sua história
A emergência do Xintoísmo remonta à história mais antiga do Japão. Ele começou como uma religião animista, onde as culturas japonesas primitivas adoravam os espíritos da natureza. Como não existem textos sagrados definitivos ou profetas, as origens do xintoísmo são mais culturais e mitológicas do que históricas.
O desenvolvimento do Xintoísmo está intimamente entrelaçado com a história do Japão. Suas práticas e crenças foram moldadas e remodeladas por influências do Budismo, Confucionismo e Taoismo, especialmente após a introdução do Budismo no Japão no século VI. Apesar dessas influências, o xintoísmo manteve seu caráter japonês único e permanece profundamente enraizado no modo de vida japonês.
Santuário de Itsukushima localização na província de Hiroshima (Japão). |
O que o Xintoísmo prega: as crenças e práticas xintoístas
O Xintoísmo é marcado pela falta de um código moral estrito ou teologia sistemática. No entanto, prega vários princípios e crenças como, por exemplo:
• Reverência à Natureza: ensina um profundo respeito pela natureza, decorrente da crença de que os kami residem em elementos naturais. Isso fomentou um forte senso de ambientalismo na cultura japonesa.
• Pureza e Limpeza Ritual: um aspecto central é o conceito de pureza. Purificações rituais (conhecidas como 'Misogi') são comuns, envolvendo práticas como lavar o corpo e enxaguar a boca.
• Festivais e Cerimônias: Matsuri, ou festivais, desempenham um papel significativo no Xintoísmo. Estas são ocasiões alegres que honram os kami e são marcadas por procissões, música, dança e oferendas.
• Comunidade e Harmonia: o xintoísmo enfatiza fortemente a comunidade e a harmonia social. Incentiva comportamentos e atitudes que promovem a coesão social e o bem-estar coletivo.
• Celebração da Vida: ao contrário de muitas religiões que se concentram no pós-vida, o xintoísmo está mais preocupado com esta vida, enfatizando a alegria, a beleza e a celebração das mudanças sazonais.
Torii: símbolo da passagem da vida mundana para a vida sagrada. |
O torii e seu significado no Xintoísmo
O torii é um portão tradicional japonês encontrado com maior frequência na entrada ou dentro de um santuário xintoísta, onde simbolicamente marca a transição do mundano para o sagrado. A presença de um torii na entrada é geralmente a maneira mais simples de identificar santuários xintoístas, e eles são um aspecto distintivo e icônico da arquitetura cultural e religiosa japonesa.
Os portões torii são tipicamente feitos de madeira, pedra ou, às vezes, metal, e são pintados ou deixados em sua cor natural. O design mais básico consiste em dois postes verticais conectados no topo por duas barras horizontais, com a barra superior geralmente curvada para cima ligeiramente. Esse design pode variar amplamente, no entanto, com alguns torii apresentando entalhes intrincados, múltiplas camadas de barras horizontais ou formas únicas.
As origens do torii são um tanto incertas, mas acredita-se que eles possam ter sido influenciados por estruturas semelhantes em outras culturas asiáticas ou poderiam ter se desenvolvido de forma independente no Japão. Com o tempo, eles passaram a ser fortemente associados às crenças xintoístas, muitas vezes simbolizando a fronteira entre os mundos espiritual e físico. Ao passar por um torii, diz-se que os visitantes estão se movendo para um espaço que está mais conectado ao domínio divino ou espiritual.
As principais divindades (kamis) do Xintoísmo:
Amaterasu Ōmikami: a deusa do sol e principal divindade do Xintoísmo.
Ebisu: um dos sete deuses da fortuna, associado à pesca, aos negócios e à riqueza.
Fūjin: o deus do vento (é um dos kamis xintoístas mais antigos).
Hachiman: o deus da guerra.
Junshi: o deus da provocação.
Inari Okami: divindade do arroz, da agricultura e do chá.
Kotoamatsukami: a trindade kami primária (primeiras divindades que surgiram no início do universo).
Omoikane: a divindade da sabedoria e da inteligência.
Raijin: o deus dos relâmpagos, trovões e tempestades.
Ryūjin: o deus dragão japonês do mar e das tempestades.
Sarutahiko Okami: o kami da terra.
Tenjin: o deus da poesia, dos estudas e da intelectualidade.
Conclusão
O Xintoísmo não é apenas uma religião no sentido convencional; é um aspecto fundamental da identidade e do patrimônio cultural japonês. Sua abordagem flexível e não dogmática permite que coexista com outras crenças religiosas, tornando-o um caminho espiritual singularmente inclusivo e adaptável. Compreender o Xintoísmo oferece uma janela para o coração da cultura japonesa, uma que harmoniza o respeito pela natureza, o bem-estar comunitário e a santidade da tradição.
Amaterasu: uma das principais divindades do Xintoísmo. |
Por Jefferson Evandro M. Ramos
Historiador formado em História pela Universidade de São Paulo (1994)
Referência do artigo:
SOKYO, Ono. "Xintoísmo: A Caminho dos Kami." Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. São Paulo: Editora Pensamento, 2003.
Vídeo indicado no YouTube:
Xintoísmo - Origem, Criação, Kami e Princípios - Canal Conhecimentos da Humanidade