Mais de trezentos anos sem indústrias
Enquanto o Brasil foi colônia de Portugal (1500 a 1822) não houve desenvolvimento industrial em nosso país. A metrópole proibia o estabelecimento de fábricas em nosso território, para que os brasileiros consumissem os produtos manufaturados portugueses. Mesmo com a chegada da família real (1808) e a Abertura dos Portos às Nações Amigas, o Brasil continuou dependente do exterior, porém, a partir deste momento, dos produtos ingleses.
Início da industrialização
Foi somente no final do século XIX que começou o desenvolvimento industrial no Brasil. Muitos cafeicultores investiram parte dos lucros, obtidos com a exportação do café, no estabelecimento de indústrias, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Eram fábricas de tecidos, calçados e outros produtos de fabricação mais simples. A mão de obra usada nestas fábricas era, na maioria das vezes, formada por imigrantes italianos.
Aspectos da industrialização do Brasil na República Velha (1889–1930):
• Não devemos entender as atividades industriais da República Velha como industrialização propriamente dita, pois não houve um projeto específico e eficiente de desenvolvimento industrial no Brasil. A agricultura, principalmente a do café, foi o foco dos governos nesse período da História do Brasil.
• A política econômica dos governos da República Velha visava apenas os interesses dos cafeicultores (principalmente de São Paulo), através de sucessivas ações de valorização de preços. A compra de estoques de café, pelo governo, foi uma dessas ações. Esse sistema ficou conhecido como Política de Valorização do Café.
• Os governos favoreciam indiretamente os industriais. Câmbio em baixa; taxas alfandegárias protecionistas e demais medidas, que interessavam aos cafeicultores, ajudavam também o setor industrial.
• A Primeira Guerra Mundial forçou um rápido surto industrial no país. A partir da diminuição das importações, em virtude do envolvimento dos centros industriais europeus no conflito, o Brasil precisou produzir aqui os produtos industrializados que eram até então importados.
• A função das indústrias brasileiras, em reação ao conflito, era o de substituir provisoriamente as importações.
• Vale ressaltar também que alguns ricos produtores de café fizeram investimentos no setor industrial, como estratégia de diversificação de investimentos.
Cotonifício Crespi, no bairro da Mooca em 1917, durante uma greve. |
Principais causas que favoreceram a industrialização do Brasil:
O processo de industrialização do Brasil se intensificou após a Segunda Guerra Mundial. Podemos citar vários motivos (causas ou condições) econômicos que explicam esse processo:
• Política de substituição de importações por produtos fabricados no Brasil.
• Compra de bens de capital (máquinas e equipamentos para indústria) com reservas cambiais provenientes da exportações de matérias-primas e produtos agrícolas.
• Política de fortalecimento das indústrias nacionais, principalmente durante os governos de Getúlio Vargas. Em conjunto com essa política, o Estado adotou medidas protecionistas, que também favoreceram, num primeiro momento, a indústria nacional.
• Política governamental de incentivo a entrada de subsidiárias de multinacionais estrangeiras. Essa política teve início com o governo JK. A indústria automobilística foi o grande destaque desse período.
• Estímulos à imigração para favorecer a entrada de conhecimentos técnicos e científicos (know-how) dos países industrializados.
• Acentuado crescimento populacional do Brasil, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, que fez aumentar o mercado consumidor interno e, por consequência, a necessidade por produtos industrializados.
Construção da Companhia Siderúrgica Nacional em 1941: indústria foi criada por decreto pelo presidente Getúlio Vargas. |
Etapas do desenvolvimento industrial brasileiro:
1. Era Vargas e desenvolvimento industrial
Foi durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930–1945) que a indústria brasileira ganhou um grande impulso. Vargas teve como objetivo principal efetivar a industrialização do país, privilegiando as indústrias nacionais, para não deixar o Brasil cair na dependência externa. Com leis voltadas para a regulamentação do mercado de trabalho, medidas protecionistas e investimentos em infraestrutura, a indústria nacional cresceu significativamente nas décadas de 1930-40. Porém, este desenvolvimento continuou restrito aos grandes centros urbanos da região sudeste, provocando uma grande disparidade regional.
Durante este período, a indústria também se beneficiou com o final da Segunda Guerra Mundial (1939–45), pois, os países europeus, estavam com suas indústrias arrasadas, necessitando importar produtos industrializados de outros países, entre eles o Brasil.
Com a criação da Petrobrás (1953), ocorreu um grande desenvolvimento das indústrias ligadas à produção de gêneros derivados do petróleo (borracha sintética, tintas, plásticos, fertilizantes, etc.).
2. Período JK
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956–1960) o desenvolvimento industrial brasileiro ganhou novos rumos e feições. JK abriu a economia para o capital internacional, atraindo indústrias multinacionais. Foi durante este período que ocorreu a instalação de montadoras de veículos internacionais (Ford, General Motors, Volkswagen e Willys) em território brasileiro.
3. Últimas décadas do século XX
Nas décadas 70, 80 e 90, a industrialização do Brasil continuou a crescer, embora, em alguns momentos de crise econômica, ela tenha estagnado. Atualmente o Brasil possui uma boa base industrial, produzindo diversos produtos como, por exemplo, automóveis, máquinas, roupas, aviões, equipamentos, produtos alimentícios industrializados, eletrodomésticos, etc. Apesar disso, a indústria nacional ainda é dependente, em alguns setores, (informática, por exemplo) de tecnologia externa.
A fase da desindustrialização
A partir da década de 1980, a economia brasileira passou por um perigoso e problemático processo de desindustrialização. Muitas indústrias fecharam, enquanto outras transferiram suas bases de produção para países como a China, em busca de menores custos de produção (principalmente energia, menores impostos e mão-de-obra barata).
Esse processo de enfraquecimento industrial apresentou vários aspectos negativos para o Brasil como, por exemplo: aumento da importação de produtos industriais importados, retração nas pesquisas da área industrial, diminuição da exportação de produtos de alto valor agregado e diminuição de empregos em indústrias.
Desindustrialização: um grave problema que a economia brasileira vem enfrentando desde a década de 1980. |
Você sabia?
É comemorado em 25 de maio o Dia da Indústria.
Interior de uma indústria brasileira do final do século XIX. |
RESUMO
Mais de trezentos anos sem indústrias
- Durante o período colonial (1500-1822), Portugal proibiu a instalação de indústrias no Brasil para manter a dependência dos produtos manufaturados portugueses.
- A chegada da família real e a Abertura dos Portos (1808) permitiram o comércio com outras nações, mas a dependência externa permaneceu, especialmente em relação à Inglaterra.
Início da industrialização
- No final do século XIX, cafeicultores investiram parte dos lucros do café na criação de indústrias, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
- As primeiras indústrias produziam bens simples, como tecidos e calçados, empregando principalmente imigrantes italianos.
Industrialização na República Velha (1889–1930)
- A industrialização nesse período foi limitada e sem planejamento governamental, com foco econômico na agricultura, especialmente no café.
- A Política de Valorização do Café favoreceu os cafeicultores e, indiretamente, os industriais, por meio de medidas como câmbio baixo e tarifas protecionistas.
- A Primeira Guerra Mundial impulsionou a industrialização ao reduzir as importações, levando o Brasil a produzir internamente bens antes adquiridos no exterior.
Principais causas da industrialização no Brasil :
- Substituição de importações por produtos nacionais para reduzir a dependência externa.
- Investimentos em bens de capital financiados por reservas cambiais das exportações agrícolas.
- Políticas protecionistas e de fortalecimento das indústrias nacionais, especialmente no governo Vargas.
- Atração de multinacionais durante o governo de Juscelino Kubitschek, com destaque para a indústria automobilística.
- Estímulo à imigração para incorporar conhecimentos técnicos e científicos.
- Crescimento populacional pós-Segunda Guerra Mundial, que ampliou o mercado consumidor interno.
Etapas do desenvolvimento industrial brasileiro:
1. Era Vargas (1930–1945)
- Getúlio Vargas promoveu políticas protecionistas e regulamentações trabalhistas para estimular a indústria nacional.
- Houve crescimento industrial nas décadas de 1930 e 1940, restrito à região Sudeste, acentuando disparidades regionais.
- A criação da Petrobrás em 1953 impulsionou indústrias ligadas ao petróleo, como borracha sintética, plásticos e fertilizantes.
2. Período JK (1956–1960)
- Juscelino Kubitschek atraiu capital internacional, favorecendo a instalação de multinacionais, especialmente montadoras de veículos.
- A industrialização ganhou novos rumos com a modernização da infraestrutura e abertura econômica.
3. Últimas décadas do século XX
- Entre as décadas de 1970 e 1990, o Brasil consolidou sua base industrial, produzindo automóveis, máquinas, alimentos industrializados, aviões, entre outros.
- Apesar do crescimento, o país continuou dependente de tecnologia externa em setores como informática.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).
Fontes de referência do texto:
FICO, Carlos. História do Brasil Contemporâneo – da morte de Vargas aos dias atuais. São Paulo, SP: Contexto, 2015.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
LOUREIRO, Boris. Felipe Pereira. As origens da indústria no Brasil. 1ª edição. São Paulo: LCTE, 2005.
Vídeo indicado no YouTube:
Industrialização Brasileira - Canal Geobrasil