Reforma Anglicana

A Reforma Anglicana foi um movimento de separação da Igreja da Inglaterra da autoridade do Papa e da Igreja Católica Romana, liderado pelo rei Henrique VIII no século XVI, resultando na criação da Igreja Anglicana.


Catedral de Canterbury: principal referência do Anglicanismo na Inglaterra.
Catedral de Canterbury: principal referência do Anglicanismo na Inglaterra.

 

O que foi a Reforma Anglicana?


A Reforma Anglicana, também conhecida como a Reforma Inglesa, foi um movimento religioso, político e social que ocorreu na Inglaterra no século XVI. Ela fez parte da ampla Reforma Protestante na Europa, que desafiou a autoridade da Igreja Católica Romana. A Reforma Anglicana resultou na criação da Igreja da Inglaterra, uma denominação cristã distinta que manteve muitas práticas tradicionais, mas rejeitou a autoridade papal. Esse processo alterou significativamente o cenário religioso da Inglaterra e teve efeitos duradouros na sociedade, na política e na religião britânicas.



Principais causas da Reforma Anglicana:


A Reforma Anglicana teve várias causas, tanto políticas quanto religiosas, que prepararam o caminho para a ruptura com a Igreja Católica Romana. Entre as principais causas, podemos citar:


A crise marital e dinástica de Henrique VIII: o gatilho imediato da Reforma Anglicana foi o desejo do rei Henrique VIII de ter um herdeiro masculino. Sua primeira esposa, Catarina de Aragão, não conseguiu dar-lhe um filho homem, e Henrique buscou a anulação do casamento para se casar com Ana Bolena. Quando o Papa Clemente VII se recusou a conceder a anulação, Henrique desafiou a autoridade papal e tomou suas próprias decisões, levando à separação da Inglaterra de Roma.


O surgimento do nacionalismo: no início do século XVI, havia um crescente senso de identidade nacional inglesa. Muitos nobres e intelectuais ingleses ressentiam a influência e a riqueza da Igreja Católica na Inglaterra. Isso gerou apoio à decisão de Henrique VIII de separar-se de Roma e estabelecer uma igreja nacional independente sob controle real.


A influência das ideias protestantes: embora Henrique VIII mantivesse crenças religiosas conservadoras em muitos aspectos, as ideias protestantes, especialmente de Martinho Lutero e João Calvino, já haviam se espalhado na Inglaterra. Reformadores defendiam mudanças como a tradução da Bíblia para o inglês, cultos mais simples e a rejeição de práticas católicas, como a veneração dos santos.


Motivações financeiras: a Igreja Católica possuía grandes quantidades de terras e riqueza na Inglaterra. Ao romper com Roma, Henrique VIII pôde dissolver os mosteiros e confiscar propriedades da Igreja, enriquecendo significativamente a coroa e aumentando seu poder sobre a nobreza inglesa.


Conflitos entre a coroa inglesa e o papado: durante séculos, existiam tensões entre os monarcas ingleses e o Papado sobre questões de poder e jurisdição. A disputa de Henrique VIII com o Papa sobre seu divórcio não foi um evento isolado, mas parte de um conflito mais amplo entre autoridades seculares e religiosas.

 

Retrato pintado do rei inglês Henrique VIII

Henrique VIII: o líder da Reforma Anglicana na Inglaterra.




Características da Reforma Anglicana:



O Ato de Supremacia (1534): essa lei, aprovada pelo Parlamento inglês, declarou que o rei da Inglaterra era "o único chefe supremo na Terra da Igreja da Inglaterra". Isso marcou uma ruptura formal com a Igreja Católica Romana, colocando a autoridade religiosa nas mãos da monarquia.


Manutenção de rituais católicos: apesar da separação de Roma, a Igreja da Inglaterra manteve muitos aspectos do culto católico. Diferentemente das reformas luteranas ou calvinistas, que rejeitaram a maioria das tradições católicas, a Reforma Anglicana preservou a estrutura dos bispos, a hierarquia da igreja e elementos da liturgia, criando uma transição mais gradual.


A Dissolução dos mosteiros: uma das ações mais dramáticas da Reforma foi o fechamento e a desmontagem dos mosteiros e conventos entre 1536 e 1541. Esse processo retirou da Igreja Católica grande riqueza e terras, que foram redistribuídas para a coroa e súditos leais ao rei.


Criação do livro de oração comum: introduzido em 1549, o Livro de Oração Comum tornou-se central no culto anglicano. Escrito em inglês, ele fornecia uma liturgia uniforme para a Igreja da Inglaterra e foi um elemento chave para solidificar as reformas religiosas.


Controle real sobre a doutrina: o monarca, e não o clero ou o Papa, agora tinha a palavra final em questões de doutrina religiosa e administração da igreja. A monarquia inglesa manteve esse controle sobre a direção da Igreja, equilibrando elementos católicos e protestantes, dependendo do governante.

 

Página título do livro de Oração Comum

Página título do livro de Oração Comum (1549)

 



Principais consequências da Reforma Anglicana:


Conflitos religiosos e perseguições: a Reforma levou a décadas de turbulência religiosa na Inglaterra, especialmente entre católicos, protestantes e, mais tarde, puritanos. Esse conflito resultou em períodos de perseguição sob vários monarcas, notadamente Maria I (católica) e Elizabeth I (protestante), além de agitações políticas, como a Guerra Civil Inglesa.


O estabelecimento da Igreja da Inglaterra: um dos resultados mais duradouros da Reforma foi o estabelecimento da Igreja da Inglaterra como a religião oficial do estado. A Igreja equilibrou elementos do catolicismo e do protestantismo, levando à sua identidade única como uma igreja "anglicana".


Perda de influência papal na Inglaterra: a ruptura com Roma significou que o Papa não tinha mais autoridade religiosa ou política na Inglaterra. Essa mudança reduziu a influência da Igreja Católica na sociedade inglesa e abriu caminho para a propagação mais livre das ideias e reformas protestantes.


Confisco de riquezas da Igreja: com a dissolução dos mosteiros, a coroa confiscou vastas quantidades de propriedades e riquezas da Igreja, o que alterou significativamente a estrutura econômica e social da Inglaterra. Muitos nobres e membros da pequena nobreza se beneficiaram da redistribuição de terras, fortalecendo ainda mais o poder da monarquia.


Influência nas colônias inglesas: as mudanças religiosas e políticas da Reforma teriam um impacto significativo nas colônias inglesas, especialmente na América do Norte. Muitos dos primeiros colonos, como os puritanos, deixaram a Inglaterra em busca de liberdade religiosa devido às tensões não resolvidas entre diferentes seitas protestantes e a Igreja Anglicana.

 

 

Retrato pintado de Thomas Cromwell

Thomas Cromwell, primeiro-ministro inglês, foi um dos principais arquitetos da Reforma Anglicana, ajudando o rei Henrique VIII a romper com a Igreja Católica e a estabelecer a supremacia do monarca sobre a Igreja da Inglaterra.

 



Legado da Reforma Anglicana


O legado da Reforma Anglicana ainda é evidente hoje na vida religiosa, cultural e política do Reino Unido e em muitas partes do mundo. A Igreja da Inglaterra continua sendo a igreja estabelecida na Inglaterra, com o monarca como seu chefe. Sua mistura de tradições católicas e reformas protestantes também influenciou outras igrejas anglicanas ao redor do mundo, formando uma Comunhão Anglicana global. Além disso, a Reforma contribuiu para o surgimento do pluralismo religioso, da consciência individual em questões de fé e do desenvolvimento de estados-nação modernos, onde a autoridade religiosa está separada do poder político. Os debates e tensões que surgiram durante a Reforma prepararam o terreno para futuras lutas por tolerância religiosa, direitos civis e governança democrática.

 

 


 

Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Artigo publicado em 23/09/2024




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